23 janeiro, 2008

Josefa de Óbidos 1630-1684


Josefa de Óbidos
(1630 - 1684)

“Santa engrinaldada de flôres”

óleo sobre cobre
A.240,2 mm x L.180,8 mm

Coleção Particular








“ Menino Jesus numa cercadura com flôres ”

Pintura óleo sobre cobre - não assinada

A. 480 x L. 230 mm
Coleção em Portugal.













Josefa de Óbidos


Josefa em Óbidos,para muitos autores dos séculos XVIII e XIX citam com encómio a figura e as obras desta mulher-pintora sediada na vila de Óbidos, especialista, segundo um deles (Ribeiro dos Santos), nas pinturas de flores e «objectos inanimados», segundo outros (Garrett) no género retratístico, segundo outros ainda (Cyrillo) na gravura e nas miniaturas magistrais realizadas no cobre...
...Se as miniaturas cúpricas se refinam em delicadezas de misticismo sincero, nas suas Virgens com o Menino rodeados de grinaldas florais, Baptistas nuzinhos, santos e santas de devoção doméstica,engrinaldadas de flôres, etc., as telas retabulares em que Josefa se empenhou nos anos maduros (caso da "Sagrada Família" do Bussaco, de 1664, da "Adoração dos Pastores" de Cós, de 1669, das célebres telas com a "Vida de Santa Teresa de Jesus" na Igreja Matriz de Cascais, pintadas em 1672, ou das telas da Igreja da Misericórdia de Peniche, encomendadas em 1679) traem com frequência deficiências de pincel e cansaços de "receita", num esgotamento visível de potencialidades que se transmite também a algumas versões tardias de "Meninos Jesus" desnudos, "pintados com bolinhos" (Manuel Rio de Carvalho) com as suas rendas e tules ou ataviados de adereços profanos com suas coroas de flores garridas, de sentido exclusivamente devocional...

Em suma: Josefa de Óbidos é a mais celebrada figura da arte portuguesa do século XVII.
Pintora de assinaláveis merecimentos, quer ao nível da natureza morta, género em que a sua fama melhor perdurou, quer aos níveis da representação retabular sacra, do retrato, da gravura a buril, e da miniatura cúprica, a artista constitui um caso singular de representante das correntes plásticas naturalistas e tenebristas do Barroco, tendências essas então triunfantes no país vizinho e no grosso da Europa.
Um convite a todos, portanto para olharmos Josefa.
O intimismo barroco provincial destas obras, explicadas à luz da arte mais académica de Baltazar Gomes Figueira, seu único e verdadeiro mestre, sublinha os valores precisos destas miniaturas em cobre, destes "bodegones", destas telas e tábuas de temário religioso, destas gravuras, deste retrato... O sentido de fruição da arte de Josefa de Óbidos sente-se, mesmo, examinando as obras mais displicentes, as de acabamento oficinal, ou as dos modestos epígonos, como o Alferes António Pinheiro Lago, de Tentúgal.
No fundo trata-se de um receituário feito de pessoalismos veementes, de ternura pelas coisas simples, de sapiência original à margem de escolas: esse foi o segredo, e a base do génio, de Josefa de Óbidos."